Os galos da minha rua
I
Os galos que rondam
a minha rua
à luz trêmula do luar
não ciscam gravetos do chão
nem dizem cocoricó
um bando chega
outro foge
às vezes duelam
na curva das esquinas
quem é o dono do terreiro
qual grita mais alto
o maior
II
Quando erguem o aço frio
da ponta de seus bicos
noite adentro
tudo cessa de repente
miados no telhado
a estrela cadente
ave-marias à beira da cama
E a monotonia estúpida
da cantiga entoada
atravessa janelas
ameaça por baixo das portas
III
As mãos que os fazem
expelir fogo
assustando os cupidos
há pouco
brincavam de pega-pega
pipas nos fios elétricos
rodar pião
há muito
carregam a morte e a vida agarradas
à brutal cicatriz branca
do pó
Reginaldo Costa Alburqueque: 47 anos e campo-grandense-MS de coração. Autor do livro Sonetos no azul da tarde.
Contato: reginaldoalbuquerque@uol.com.br
Rei de Nada
De tudo
foste capaz
foste capaz
conquanto fosse absurdo
Sempre pudeste mais
E de todo o teu mundo,
foste rei ineficaz
foste rei ineficaz
Prometendo a teu súdito
fantasiosa paz
fantasiosa paz
Fui eu, súdita tua
Fui inteira, um tanto louca
e mesmo nua
quando envolta
por teus braços
vestia-me de tuas loucuras
de teus espasmos
Coisas cruas...
Típicas do teu reinado
Revoltas tramei nove
Norte a Sul
Mas ainda me envolves
Embora, mal saibas, tu
de futuro golpe...
Fui inteira, um tanto louca
e mesmo nua
quando envolta
por teus braços
vestia-me de tuas loucuras
de teus espasmos
Coisas cruas...
Típicas do teu reinado
Revoltas tramei nove
Norte a Sul
Mas ainda me envolves
Embora, mal saibas, tu
de futuro golpe...
Eis que derrubará teu império
Sério...
Hoje ainda reinas
coração meu
Amanhã, tu beiras
ser apenas museu
Ludmila Abreu: É modelo e estudante de direito, apaixonada por poesias e samba. Escreve e compõe desde os 12 anos.
Contato: ludmilla_abreu@hotmail.com
NOVAS DIMENSÕES
Dispenso flores,
missa também;
vou de mãos vazias,
assim como cheguei:
sem rumores, sem ninguém.
Lamentos? De jeito algum,
Dores? Todas suportadas;
apenas fui mais um
entre imprevisíveis jornadas.
Compensações? Há algumas:
fora do espaço,
do tempo liberto,
caminho entre plumas
em iluminado deserto.
O resto, não cabe escolha;
dobra-se a folha,
são novas dimensões.
É itinerário da humanidade:
na aritmética da eternidade,
na geometria das gerações.
Luiz Gondim: É presidente da Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes e vice-presidente da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro.
Contato: luiggondim@gmail.com